quinta-feira, 21 de março de 2013

Dia 21 de março de 2013



Dia maravilhoso este 21 de Março marcado por momentos de emoção, de alegria e de recordação. Passei boa parte de meu dia em uma festividade de comemoração dos 10 anos da SEPPIR, depois estava envolvida no planejamento da comemoração dos 10 anos da Lei 10.639/03 e isso mexeu com meus sentimentos e memória de uma forma singular. Hoje, eu lembrei muito do ano de 1988, quando eu estava na terceira série primária e se comemorava os 100 anos da abolição. Naquela época, eu pensava que no universo éramos poucos negros, pois a negritude para mim se resumia a minha família, alguns vizinhos e poucos membros de nossa igreja. Na escola, eu era a única menina negra de minha turma.
No dia 13 de maio daquele ano, a professora passou um texto no quadro em que a ação da Princesa Isabel era exaltada, não se mencionava a luta dos negros, apenas o quanto a princesa era bondosa em libertar os escravos que não sabiam ler e nem falar a língua portuguesa. Meus colegas acabavam rindo e fazendo piadas racistas e eu sentia um misto de vergonha e raiva, porque eu tinha uma tia-bisavó que havia sido escrava e que carregava as marcas da escravidão em suas costas, e porque meus pais sempre falavam da importância do trabalho dos negros para a sociedade. O tempo passou, eu cresci, formei-me professora e passei a lutar por uma educação mais igual para os meus alunos, porque eu não queria que eles passassem pelas mesmas coisas que eu havia passado, porque eu queria que a história perdida de minha tia-bisavó não fosse motivo de vergonha, mas de orgulho.
Hoje observando a mudança de paradigmas que temos em nossa educação sinto-me realizada, pois vejo no calendário o 21 de março (Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial) sendo celebrado nas escolas, nos órgãos do governo e em diversas partes do Brasil. Percebo que nosso povo começa a sentir orgulho de sua cor negra na pele, de seus cabelos encaracolados, de sua cultura e tradição, de seus antepassados que foram escravizados - tendo na figura de Zumbi dos Palmares um herói. Os jovens negros antes alijados do processo de ensino (eu era a única menina negra de minha turma de 30 crianças) agora estão mais presentes nas salas de aula e podem sonhar com uma carreira que lhes garanta um posto de trabalho que não seja necessariamente o de trabalhador braçal.
Ainda há muito caminho pela frente, ainda enfrentamos um racismo cruel em diversos espaços, ainda nos é negado o acesso a direitos básicos garantidos legalmente, mas já avançamos. Hoje, posso comemorar porque os meus alunos ouvem uma história diferente sobre a escravidão; posso festejar porque os negros não são mais apenas aqueles do meu núcleo familiar – estão visíveis na televisão, nos jornais, em espaços de reconhecimento. Os brasileiros se autodeclaram em alto e bom tom como negros, afrodescendentes, afro-brasileiros... descendentes de um povo forte e lutador.
Assim, que este 21 de março, que me fez dançar e chorar cantando “Maria, Maria”, seja mais um marco na história de nosso país, principalmente de nossa educação, a fim de que não repitamos erros que macularam negros e brancos e nos destituíram por muito tempo do direito de andarmos juntos como irmãos.

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